O golpe civil-militar completou 60 anos e com o objetivo de recuperar as memórias de resistência e promover reflexões, durante todo o mês de abril, estão sendo realizadas atividades em diferentes pontos da cidade com o objetivo de proporcionar espaços de diálogo e trocas de experiências entre gerações para fortalecer a perspectivas democráticas e a reafirmação dos direitos humanos.
Na próxima segunda-feira, 29, às 19h, no Teatro Paschoal Carlos Magno, localizado na Rua Gilberto de Alencar, 1, Centro, será exibido o documentário “Carta de Linhares: a tortura revelada”. A obra é dirigida pelo jornalista juiz-forano Marcelo Passos. Após a transmissão, haverá um bate-papo com o diretor e os ex-integrantes do Grupo Colina, Jorge Nahas e Maria José Nahas.
De acordo com Marcelo Passos, conhecer a trajetória dos ativistas, as razões da militância e o que significou a participação deles num dos episódios mais emblemáticos da resistência à ditadura militar, a Carta de Linhares, foram os objetivos da produção do documentário. “São cerca de 40 minutos que fazem o resgate inédito de uma passagem dramática da história recente do Brasil e promove o reconhecimento de um dos documentos históricos mais importantes produzidos pela resistência democrática à ditadura militar imposta ao país”, contou.
O secretário especial de Direitos Humanos, Biel Rocha, pontuou que a programação teve início com a Marcha da Democracia no dia 1º de abril. “Durante todo o mês estamos desenvolvendo uma série de atividades para que com a comunidade de Juiz de Fora possamos rever, discutir e lembrar a história de companheiros que deram sua vida pela democracia. Convidamos a população para participar. Lembrar para não esquecer, para que nunca mais possa acontecer”.
A exibição também irá contar com a apresentação artística do “Coletivo Vozes da Rua” com uma resposta à Carta dos presos de Linhares durante o Regime Militar. O coletivo tem como objetivo principal a promoção e a disseminação do conhecimento nas comunidades periféricas, levando o acesso à informação principalmente por meio da cultura hip hop.
Sobre o documentário
Em 29 de janeiro de 1969, a polícia invadiu um ‘aparelho’ do grupo guerrilheiro Comando de Libertação Nacional (Colina) em Belo Horizonte. Depois de passarem pelos porões do DOPS, Delegacia de Furtos e Roubos e quarteis militares, em Belo Horizonte e pela Polícia do Exército, no Rio de Janeiro, onde sofreram torturas, os militantes foram levados para a Penitenciária de Linhares, em Juiz de Fora. A instituição, que abrigava presos comuns, havia sido desocupada para receber os presos políticos sob a custódia da Justiça Militar.
Foi lá que eles se reuniram, no final de 1969, e produziram a chamada “Carta de Linhares”, documento que revelava, em 28 páginas, com riqueza de detalhes, toda a tortura sofrida por cada um dos presos. Em dossiê encaminhado à Comissão Nacional da Verdade, em 2012, há o manuscrito em 2ª versão, escrito por Ângelo Pezzuti e assinado por 12 integrantes do grupo.