O terceiro episódio do “Cultura de Paz Entrevista” recebeu o médico psiquiatra e professor da Faculdade de Medicina da UFJF, Alexandre de Rezende Pinto, para tratar sobre as consequências dos transtornos alimentares e da dependência química. A iniciativa é parte do projeto “Cultura de Paz e Prevenção das Violências: Tecendo Redes”, parceria entre a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) e a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
“A dependência química é considerada um transtorno mental. Ela é complexa e tem múltiplos determinantes. Ao pensarmos na transversalidade do tema, esbarramos em diversos fatores, inclusive nas questões sociais. Pelo lado dos transtornos alimentares, pensamos na cultura que temos de valorização da magreza, preocupação excessiva com o corpo. Questões que vão incidir na saúde mental”, destacou Alexandre.
No estúdio da Rádio Facom, na Faculdade de Comunicação, da UFJF, o psiquiatra reforçou, ainda, ao longo do podcast, o quanto é relevante esse tema ser abordado como política continuada, para além unicamente do mês de setembro.
Alexandre pontuou que em torno de 98% dos casos de suicídio estão relacionados a algum transtorno mental. “Não tem como pensar no suicídio sem pensar no adoecimento mental. A grande estratégia da prevenção passa, portanto, pela valorização da saúde mental”. Sobre a interferência das redes sociais digitais nos processos de adoecimento das pessoas na sociedade contemporânea, o professor destacou o quanto é necessário diferenciar a realidade virtual da vida física. “A rede social não é a vida real. É um arremedo, uma caricatura da vida real. Isso é importante para começarmos a quebrar estereótipos, por exemplo, o que é este conceito do corpo bonito.”
Neste contexto, a autoestima aparece como um fator de risco, conforme acentuou o psiquiatra. “Temos que trabalhar muito a ideia de gostarmos de nós da forma como somos. Isso vale em relação ao nosso corpo, ao nosso peso. Temos que tomar muito cuidado com a forma como absorvemos a ideia de que um corpo bonito é aquele necessariamente magro, com padrões preestabelecidos de beleza. As pessoas que desenvolvem transtornos mentais têm estes modelos preestabelecidos de forma muito rígida”.
O cuidado com o outro foi outra abordagem de destaque. O médico psiquiatra enfatizou a necessidade de uma postura de acolhimento, de não julgamento. “Pode ser às vezes que em um simples comentário que alguém faz ou poste que ali esteja um pedido de ajuda. Uma tentativa de suicídio ou alguém que revela uma ideação suicida é sempre um pedido de socorro. Temos que ter a capacidade de ouvir, como profissional, mas também como amigo, familiar, como colega de trabalho. Ter a capacidade de perceber estes sinais. Para isto, precisamos de uma postura mais empática”.
O podcast é uma iniciativa do eixo de Comunicação do projeto “Cultura de Paz e Prevenção das Violências: Tecendo Redes”, parceria entre a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) e a Universidade Federal de Juiz de Fora. Gravado na Rádio Facom, da UFJF, o podcast foi apresentado pelo coordenador do eixo, Ricardo Bedendo, e a bolsista, Maria Clara Magalhães. A iniciativa integra, ainda, a campanha sobre Saúde Mental, desenvolvida pelo “Cultura de Paz”, a partir das orientações do Plano Municipal da Vigilância das Causas Externas.