“Não existe um padrão pré estabelecido de como ser jovem. É preciso respeitar e acolher a identidade que eles (jovens) estão construindo. Se isso não for feito, pode ser a causa de grande sofrimento”. O destaque é da médica psiquiatra da infância e adolescência do Hospital Universitário da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Maria Clotilde Lima Bezerra de Menezes, convidada do podcast “Cultura de Paz Entrevista”, que nesta quinta-feira, 27, lança seu segundo episódio, com o tema “saúde mental”. O Projeto Cultura de Paz e Prevenção das Violências: Tecendo Redes é uma parceria entre a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) e a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
A médica ressaltou a relevância do tratamento com os trabalhos da psicologia e psiquiatria, bem como a relevância de debater e superar algumas questões culturais que estigmatizam o tratamento. “Muitas vezes, os pais não querem levar os filhos ao psiquiatra e quando levam ainda têm muita resistência, por exemplo, ao tratamento medicamentoso. Mas, é importante esclarecer que nem sempre uma criança ou um adolescente vai ser medicado. Isso só vai acontecer nos casos mais graves e que quando acontece a medicação é mais segura do que potencialmente danosa. Na maioria dos casos, o que é mais importante é a mudança do estilo de vida, promoção de saúde mental, terapia.”
O crescimento do suicídio no Brasil e no mundo, com dados de uma pesquisa divulgada pelo Nexo Jornal, também foi pauta. “A vida está parecendo cada vez mais sem sentido. Por exemplo, a gente utiliza, claro, redes sociais e neste momento é importante para divulgar informações positivas. O problema é quando usamos para um afeto muito superficial, uma vida muito superficial, sem valores. por exemplo, amizades que são construídas apenas de forma digital e não presencial, com o calor humano, um aperto de mão, um abraço, inclusive com as dores que acompanham a amizade, a vida do ser humano. Mas, essas dores também fazem a vida ter sentido.” Para Clotilde, quando vivemos superficialmente, “qualquer dor que vai ter impacto muito maior. A ansiedade e a depressão aumentam. Os pais dão cada vez menos atenção aos filhos, as notas são mais valorizadas do que um comportamento de atenção”.
Outros pontos discutidos foram a saúde mental de crianças e de adolescentes neste momento de retomada de atividades presenciais e quais as principais causas de adoecimento desta parcela da população. A médica salientou os impactos que o contexto econômico e político pode ter sobre a juventude. “Muitas vezes, as crianças não dão sinais (de depressão e suicidio) de demonstrar maior tristeza e preocupação. Isso acontece porque a vida está mais cheia de cobranças, as crianças acabam sofrendo as consequências do nosso contexto socioeconomico.
No final, Clotilde enfatizou o adoecimento dos próprios profissionais de saúde mental. “Muitas questões produzem um nó no nosso emocional e isso é normal, porque somos humanos. O profissional também tem seus problemas e convém que ele cuide de sua própria saúde mental. Muitas vezes, o profissional negligencia esse tratamento e é fundamental que ele se cuide, até para poder trabalhar e continuar contribuindo”, pontua a médica.
O podcast é uma iniciativa do eixo de Comunicação do projeto “Cultura de Paz e Prevenção das Violências: Tecendo Redes”, parceria entre a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) e a Universidade Federal de Juiz de Fora. Gravado na Rádio Facom, da UFJF, o podcast foi apresentado pelo coordenador do eixo, Ricardo Bedendo, e a bolsista, Ana Clara Ciscotto. O coordenador salienta que: “trabalhamos com uma ideia que nos projeta a pensarmos para além do mês de setembro e, como o trabalho da saúde mental é de política continuada, precisamos sempre estar debatendo o tema e acolhendo as pessoas“.
O segundo episódio do podcast ”Cultura de Paz Entrevista“ já está disponível nas redes sociais do projeto.
Cultura de Paz e Prevenção das Violências: Tecendo Redes
O Projeto é uma parceria entre a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) e a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e busca contribuir para o desenvolvimento do Plano Municipal de Fortalecimento da Vigilância das Causas Externas da PJF. A iniciativa tem duração de seis meses e vai contar, ainda, com fóruns e campanhas que pretendem alcançar as comunidades e sensibilizá-las para o debate sobre o tema e para a busca de soluções para as diferentes demandas.
Os episódios do podcast “Cultura de Paz Entrevista” estão disponíveis no Instagram do projeto e no Spotify.
Ouça também aqui o “Cultura de Paz Reportagem”