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JUIZ DE FORA - 3/3/2015 - 20:00
“Eu promovo o bem comum” - Ondas da “Rádio Piraí” espalham esperança e alegria entre as pessoas em tratamento mental
Atividades artísticas, artesanais e de interação social. Esses são alguns dos serviços oferecidos pelo Centro de Convivência Recriar. O serviço é mantido pela Secretaria de Saúde (SS) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), através do Departamento de Saúde Mental, visando a inclusão e reabilitação psicossocial dos usuários. São 94 atendidos. Muitos passaram vários anos internados em manicômios e sofreram com terapia de eletrochoques e injeções, e viveram momentos difíceis. Através das ondas da “Rádio Piraí” encontraram uma forma de mudar essa história. A rádio tem sido uma importante atividade de comunicação e interação social, permitindo aos usuários expor, de forma espontânea, suas produções internas, como poesias, músicas, atividades de locução e entrevistas. Além da rádio, eles participam de oficinas de artes, canto, pintura e artesanato, com o auxílio dos oficineiros, voluntários e estagiários em psicologia. O centro funciona em parceria com a Associação Pró Saúde Mental “Trabalharte”, criada em 2000, com o objetivo de expandir as produções artísticas e a circulação das obras dos usuários.
Composta por pessoas em tratamento na saúde mental, familiares e membros da comunidade, a “Trabalharte” incentiva a produção artística dos usuários, bem como permite que seus trabalhos cheguem às ruas. Suas artes são produzidas com materiais que seriam descartados, como papel, casca de ovo e calotas de carro. Tudo é vendido na sede do Centro de Convivência Recriar, na Rua Tiradentes, 75, Bairro Santa Helena, e em bazares promovidos ao longo do ano. O dinheiro arrecadado é investido em atividades do próprio centro.
A oficina de rádio, oferecida todas as segundas e quartas feiras no Recriar, é a que possibilita maior interação social dos participantes. Criada há pouco mais de um ano, e com o slogan “Não Desperdice sua Loucura”, a “Rádio Piraí” espalha alegria e informação. O projeto é pioneiro em Juiz de Fora e abre espaço para as pessoas portadoras de bipolaridade, esquizofrenia e outros tipos de transtorno mental. A rádio objetiva a reconstrução do olhar social sobre o usuário em tratamento na saúde mental, além de possibilitar que eles vivam sempre uma experiência de comunicação com outras pessoas, usando uma mídia tradicional. Os programas são produzidos mensalmente, com duração aproximada de 30 minutos, e disponibilizados pela internet, na página da “Rádio Piraí” no facebook e em um canal no youtube. De acordo com Ilka Araujo, psicóloga e coordenadora do centro, a rádio tem incentivado a expressão verbal e possibilitado abertura à criatividade, assim como geração de conhecimento aos usuários.
Em dezembro, através de uma parceria entre o Centro e o projeto “Bem Comum”, da Secretaria de Comunicação (SCS) da PJF, foi concretizada uma parceria que permite o suporte na edição de áudio dos programas da “Rádio Piraí”. Uma vez por mês, a Faculdade Estácio de Sá disponibiliza o estúdio para a gravação dos programas. Ilka afirmou que a parceria vem melhorando e aprimorando o trabalho da rádio, além de dar visibilidade pública à iniciativa e promovendo a expansão de suas fronteiras.
Internado pela mãe em um manicômio com apenas 14 anos, Geraldo Fajardo, usuário do Centro de Convivência, se emociona ao contar que comemorou sua festa de 15 anos dentro de um manicômio. Recebia visitas apenas dos pais. Ele relatou que apanhava dos outros pacientes, tomava choques e sofria maus tratos. Com essa difícil rotina da internação, se entregou ao vício de fumar. Antes da internação, tinha uma relação difícil com a família. Era ignorado por todos, brigava frequentemente, batia nas janelas, quebrava os vidros. Chegou ao ponto de se isolar dentro de casa. Há sete anos, sua vida mudou. Geraldo encontrou no Centro de Convivência um caminho para realizar seus sonhos e fazer tudo aquilo que sempre teve vontade, como tirar fotos, cantar, fazer teatro, escrever poesia e aprender a usar o computador. É através da “Rádio Piraí” que ele expõe as poesias criadas por ele mesmo.
Portador de esquizofrenia, Walmir Costa já passou por 20 anos de internações. Toda sua infância foi vivida dentro de um hospital psiquiátrico. Em todos eles, uma história diferente. Ele relatou os momentos difíceis vividos durante esse período: “Não é fácil acordar todos os dias de manhã e ver grades por todos os lados. Os outros pacientes ouviam vozes, andavam sem roupa e eram agressivos. No hospital me aplicavam injeção de entorta quando eu quebrava alguma regra”. Passado o período de internação, Walmir acabou viciado em drogas e foi preso por tentativa de homicídio. Sua história começou a mudar quando ficou conhecendo o Centro de Convivência. Local onde se sente acolhido e respeitado como ser humano. Antes, era desprezado e tinha baixa autoestima. “Todos diziam que lugar de maluco é no hospital psiquiátrico. No Centro, sempre tem alguém pronto para me ouvir, quando quero desabafar”, relata Walmir. Pelas ondas da “Rádio Piraí”, ele deu a volta por cima. Passou a ser mais alegre. Ele é o locutor da rádio e sempre mantém as pessoas informadas sobre a saúde mental. Quando perguntado como conseguiu mudar de vida, responde: “Fé em Deus e força de vontade”.
* Mais informações com a Secretaria de Comunicação Social pelos telefones 3690-7245/7599.
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